É sexta-feira de tarde, estou no clube para fazer meu exercício vespertino. Estou caminhando ao lado das piscinas quando avisto um amigo meu, de 40 anos, correndo no mesmo sentido, com a diferença de que ele faz sua corrida subindo e descendo as escadas do clube. Ele me convida para correr com ele e lá vamos nós a conversar. Ele sabe que sou médico e me diz que está precisando de uma opinião. Conta que durante a semana por várias vezes teve uma dor insuportável na região do estômago. Disse-me que a última vez foi há dois dias. Ele acordou de madrugada com a dor, muito intensa mas dificil de descrever, chamou por sua mãe que ao acordar logo diagnosticou uma gastrite. Recorreu ao "estomazil" que tinha na gaveta.Esse não foi suficiente para melhorar, ela então lhe aplicou uma dose de bicarbonato em meio copo com água. A dor também não melhorou e ela usou o recurso final: omeprazol. Aos poucos a dor melhorou e ele voltou a dormir. Às seis da manhã ele acordou novamente com a dor insuportável, a mãe aplicou-lhe as mesmas medicações até que a dor melhorou e ele saiu para trabalhar. Antes, porém, a mãe se despediu com este sábio conselho: se a dor voltar vá ao hospital que pode ser um enfarte.
Voltemos à corrida. Meu amigo, após contar-me os fatos acima perguntou-me se realmente podia ser um enfarte. Eu retruquei que a dor do enfarte nem sempre é típica, em aperto, do lado esquerdo do peito, como todos pensam. Pode ser uma dor nas costas, no estômago, no ombro, ponderei. Depois afirmei que provavelmente o que ele tinha era uma gastrite mesmo, se se alimentava mal, comia fora de casa, ele me confirmou todos estes dados. Então eu continuei: não deve ser um enfarte, você é um cara tão saudável, corre quarenta minutos por dia, joga futebol. É, não deve, ele retrucou. Minha intuição de médico, entretanto, me estimulou a fazer mais algumas perguntas. Você fuma, perguntei? E ele: fumo, mas é só cigarro de palha, faz menos mal, não é? Quantos? Nem sei, sou muito estressado, fumo o dia inteiro. Tem alguém na família que já enfartou? Meu pai enfartou aos quarenta e cinco anos e morreu aos cinquenta e nove. Não quis ser dramático, então falei: na dúvida é melhor você consultar com um gastroenterologista ou um cardiologista.
Vocês já devem ter notado que tanto o meu amigo quanto a sua mãe fizeram tudo errado, não é mesmo? Ah! palavra de mãe pode salvar ou matar os filhos. A intuição disse a ela que ele tinha uma gastrite. A segunda intuição de que podia ser um enfarte, ela deixou guardadinha consigo, porque não deseja isso ao filho, portanto é melhor fingir que não é nada grave. O que ela deveria fazer e não fez? Deveria ter usado o seu poder de mãe para dizer: troque de roupa e vá ao hospital agora. Como a dor do enfarte pode ser incaracterística e como ele tem histórico de enfarte na família(o pai teve enfarte numa idade perto da sua) não pode brincar de que não é nada. O enfarte do miocárdio, para ser revertido, necessita atenção o mais rápido possível, há quem diga que após duas horas sem tratamento o dano é irreversível.
O meu amigo, pensando que a dor podia ser de enfarte começou a correr para estimular o coração. Vocês dirão, mas que cara burro! Eu direi, não, apenas intuição, apenas uma tentativa leiga de melhorar. Sigam meu conselho, nesses casos de urgência médica, a intuição sempre falha. É preciso ter conhecimento de causa, é preciso pedir um conselho correto.
Fiz meu amigo prometer que esta semana consultará com um cardiologista e um gastroenterogista e não correrá mais até depois destas consultas.
Vivendo e aprendendo, não é mesmo?
A propósito: fiquei em dúvida várias vezes sobre a regência do verbo socorrer, até descobrir que o mesmo exige objeto direto e não indireto. Assim, quem socorre socorre alguém e não a alguém. Uma dica.
Voltemos à corrida. Meu amigo, após contar-me os fatos acima perguntou-me se realmente podia ser um enfarte. Eu retruquei que a dor do enfarte nem sempre é típica, em aperto, do lado esquerdo do peito, como todos pensam. Pode ser uma dor nas costas, no estômago, no ombro, ponderei. Depois afirmei que provavelmente o que ele tinha era uma gastrite mesmo, se se alimentava mal, comia fora de casa, ele me confirmou todos estes dados. Então eu continuei: não deve ser um enfarte, você é um cara tão saudável, corre quarenta minutos por dia, joga futebol. É, não deve, ele retrucou. Minha intuição de médico, entretanto, me estimulou a fazer mais algumas perguntas. Você fuma, perguntei? E ele: fumo, mas é só cigarro de palha, faz menos mal, não é? Quantos? Nem sei, sou muito estressado, fumo o dia inteiro. Tem alguém na família que já enfartou? Meu pai enfartou aos quarenta e cinco anos e morreu aos cinquenta e nove. Não quis ser dramático, então falei: na dúvida é melhor você consultar com um gastroenterologista ou um cardiologista.
Vocês já devem ter notado que tanto o meu amigo quanto a sua mãe fizeram tudo errado, não é mesmo? Ah! palavra de mãe pode salvar ou matar os filhos. A intuição disse a ela que ele tinha uma gastrite. A segunda intuição de que podia ser um enfarte, ela deixou guardadinha consigo, porque não deseja isso ao filho, portanto é melhor fingir que não é nada grave. O que ela deveria fazer e não fez? Deveria ter usado o seu poder de mãe para dizer: troque de roupa e vá ao hospital agora. Como a dor do enfarte pode ser incaracterística e como ele tem histórico de enfarte na família(o pai teve enfarte numa idade perto da sua) não pode brincar de que não é nada. O enfarte do miocárdio, para ser revertido, necessita atenção o mais rápido possível, há quem diga que após duas horas sem tratamento o dano é irreversível.
O meu amigo, pensando que a dor podia ser de enfarte começou a correr para estimular o coração. Vocês dirão, mas que cara burro! Eu direi, não, apenas intuição, apenas uma tentativa leiga de melhorar. Sigam meu conselho, nesses casos de urgência médica, a intuição sempre falha. É preciso ter conhecimento de causa, é preciso pedir um conselho correto.
Fiz meu amigo prometer que esta semana consultará com um cardiologista e um gastroenterogista e não correrá mais até depois destas consultas.
Vivendo e aprendendo, não é mesmo?
A propósito: fiquei em dúvida várias vezes sobre a regência do verbo socorrer, até descobrir que o mesmo exige objeto direto e não indireto. Assim, quem socorre socorre alguém e não a alguém. Uma dica.
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