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CATASTROFISMO: CRISES E SEXUALIDADE

De agora em diante vou inaugurar alguns artigos sobre sexualidade, minha área principal. Crises sexuais acontecem em todos os relacionamentos. A sexualidade é um aspecto muito vulnerável de nossa personalidade e assuntos aparentemente não ligados a ela podem afetá-la sobremaneira.
Quando um dos cônjuges está em crise tende a provocar no outro muitas reações de rejeição. A pessoa que não desempenha bem sexualmente é tida como a "anormal" e leva o outro a uma ansiedade de desempenho. Esse chavão psicológico, infelizmente, é verdadeiro. Pressionados a desempenhar quase sempre não conseguimos nosso melhor. Na sexualidade, então, isso funciona, mas pior do que a ansiedade de desempenho é o catastrofismo. Vamos comparar. Hoje você foi fazer um jantar, esmerou-se no tempero, comprou um bom vinho para acompanhar, dedicou-se ao máximo a seguir a receita, mas...a comida ficou ruim. Passou do ponto em alguma coisa, ou faltou algo, o arroz queimou. Paciência. Vá comer fora. Faça uma graça. Tente outra vez. Não entre no quarto para chorar
Suponha, entretanto, que o erro seja sexual. Hoje você está a fim, pensa em tudo, prepara o clima, segue todos os passos...e quando termina...ela não gostou. Não gozou, não agradou, põe defeito em tudo. Começa a chorar. Diz que você não a ama. Compara você com os outros namorados(você é o pior, claro). O resto do dia é horrível. Cada um virado para um canto. Não conversam. Você se sente magoado com ela e resolve revidar. Enumera todos os defeitos sexuais dela. É isso, isso: o catastrofismo.
No sexo, há aqueles homens que falham sempre, os que falham de vez em quando, e os mentirosos.
No sexo, há as mulheres que gozam de vez em quando, as mulheres que não gozam nunca, e as mentirosas.
Conversar sobre sexo é uma arte. Em geral, quando se fala "sobre" o sexo, é que ele não está indo bem, portanto mexer nessa caixa de marimbondo exige perícia. Pra começar, é melhor não ser catastrófico. É certo que haverá o melhor momento para essa conversa. Não, não é agora, dentro do carro, a caminho daquela festa: corre o risco de bater o carro, de estragar a noite. Não, não é naquela hora em que os meninos estão pra chegar: vão ver a cara horrível de vocês. Não, não é depois daquele jantar no restaurante caro: que digestão difícil será, e tão caro foi a comida!
O jeitinho brasileiro conta muito. Assim assim tudo vai se ajeitando, ela entende bem o que você quer dizer, ele também entende. Amanhã será melhor. Se for pior, foi pior só hoje, há sempre dias piores e melhores. Então pense: é agora. De noite, ambos calminhos, trabalhos terminados, filhos dormindo. Olha, pega assim, faz assim, beija assim, não aperta assim, aperta mais...isso assim tá ótimo...porque nunca fizemos assim antes...oh...outro dia você não fez assim...ah eu não tava muito bem...você é linda..você também...Pra quem não ama o amor é tão bobo. E o sexo, tem a ver com amor? Tem sim, desde que haja desejo. Sem desejo não há amor que faça o sexo funcionar. Mas se houver desejo o amor ajuda muito, porque o amor é tolerante, o amor perdoa, o amor recomeça sempre do zero, o amor apaga as piores brigas, o amor é um bálsamo para os nossos defeitos.
O assunto, porém, é o catastrofismo. O cara arranjou aquela gata do outro mundo e quando foi pro motel, pronto, falhou: um zero a esquerda. Ela para ele: você é anestesista? Não senti nada. Ele para si mesmo: não sou um macho de verdade. Porque os homens obedecem tanto a seu pênis? Um pedacinho de carne de nada fazendo tanto efeito na vida deles. Estou perdido, nunca vai vou conseguir. Nossa, o que meus amigos vão pensar? Por favor, não conte. Catastrofismo, praga sexual. Ela pensando: ele viu que meu pé é horrível, por isso brochou. Meu peito é feio, não gostou do meu cheiro. Eu falei pra minha mãe não comprar aquele perfume. Eu não sou boa mesmo com os homens. Catastrofismo. Insegurança. Vontade de morrer sem motivo. Esqueçam isso. O sexo é uma brincadeira de criança. Sexo é diversão. Sexo é prazer. Prazer não se mede: se tem.
Nada, tudo um probleminha a toa. Nada que uma boa piada não resolva.

Comentários

  1. vou colocar o comentário de Milton Portocarrero, de Mato Grosso, que me enviou por email o seguinte:

    CARO RAMON, ÓTIMO SUA REFLEXÃO SOBRE O PAPEL ENFADONHO DO NOSSO JUDICIÁRIO, PODRE E MAL CHEIROSO, GOSTARIA DE APREVEITAR O DESABAFO E REFLETIR SOBRE OS TRIBUNAIS DE CONTAS DOS ESTADOS, SEM FALAR DO FEDERAL...!CARGO VITALÍCIO.????....HOJE, SOMENTE O PAPA...PRESENTE DE FINAL DE CARREIRA PARA VÁRIOS POLÍTICOS PROFISSIONAIS, QUE NÃO QUEREM LARGAR O OSSO
    AQUI NO NOSSO ESTADO UM ADVOGADO FOI IMPEDIDO DE FALAR, POIS HAVIA VOTADO EM UMA MULHER PARA SENADORA E AGORA A VÊ TOMANDO POSSE NO T,C., COM BELO SALÁRIO...E OS CONCURSOS COMO FICAM...
    Obrigado, Miltinho

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