Dentro de pouco tempo será muito difícil criar uma comédia. Porque na maioria das vezes rimos para debochar: dos defeitos dos outros, dos estereótipos, dos ditadores, dos diferentes. Bom, acho que já não é politicamente correto rir de portugueses, de negros, de judeus, de gordos, por exemplo. Mas por quê ainda rimos dos homossexuais? Na novela da hora, o marido que batia na esposa foi punido pela lei Maria da Penha, o empresário que falsificava peças foi punido pela justiça, mas o homossexual que era escurraçado e humilhado por todos continuou sendo até o fim da novela, e eu vi muitos rindo e contando piadas sobre ele em todos os lugares. No caso típico da novela as emoções dos espectadores variava da piedade à pena, do deboche ao repúdio. O certo é que a sociedade ainda está longe de saber conviver com a diferença da homossexualidade. Todos os anos, em janeiro, acontece em Belo Horizonte a campanha de popularização do teatro. A maioria das peças é comédia e uma grande parte sem compõe de peças sobre a homossexualidade. Quase sempre o que os espectadores querem é rir da homossexualidade, da própria homossexualidade. Esse ano não é diferente. Vejam as peças gays deste ano: As Monas Lisas, O Genro que era Nora,um Empregada Quase Perfeita, Drika, Aqueles Dois, 2 de paus, Bom Crioulo, Alfredo Virou a Mão, Acredite, um Espírito Baixou em Mim. Não assisti a todas elas, conheço apenas três e das que conheço uma é derivada de um belo conto, Aqueles Dois, temática séria sobre o tema, e a outra, Um Espírito Baixou em Mim, é daquelas em que se vai para rir do lado bicha do homossexual. A homossexualidade é apenas uma forma de se comportar "sexualmente". Nada tem a ver com a personalidade ou a inteligência ou a capacidade humana. A sociedade precisa fazer uma profunda revisão sobre sua maneira de lidar com esse aspecto da vida. Não devemos rir nem chorar por isso. Devemos apenas aprender a conviver.
Para os amantes da poesia Carlos Drummond de Andrade é um prato maravilhoso. Drummond é profundo, é enigmático, é incisivo. Seu ponto é exato, como a guitarra de George Harrison, a concisão de Machado de Assis(perdoem-me os exemplos tão díspares, mas foram os que me ocorreram nesse momento). Mesmo quando estamos diante de um suposto Drummond menor, somos surpreendidos. Vou dar um exemplo: encontra-se no livro A PAIXÃO MEDIDA, um dos que mais gosto. Leio o poema O SÁTIRO e o acho bobo, grosseiro, indigno de Drummond. Mas acontece que trabalho com violência sexual. Sou médico e atendo à mulheres em situação de violência sexual e doméstica todos os dias. De repente, o poema de Drummond soa como uma bomba para mim. Corro ao dicionário e a minha suspeita se personifica. É um poema simbólico, tem uma dimensão maior. Vou escrevê-lo abaixo e tentar explicar a dimensão que consigo ver nele. O SÁTIRO Carlos Drummond de Andrade(do livro A Paixão Medi
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ResponderExcluirExiste uma grande inversão de valores, um deles é essa questão do respeito a homossexualidade, antes do sexo (macho ou femea) vem o homem, vem o ser, ser humano, e é este ser que precisamos respeitar.
Ermelindo Rodrigues