O PASSEIO PÚBLICO
Precisamos acrescentar um novo adjetivo à palavra passeio. Pelo menos no Brasil passeio público quer dizer passeio privado. Esta pérola de nosso individualismo decorre da premissa de que o passeio é uma extensão da casa, local onde ela termina e não onde começa. Assim, cada brasileiro tem o passeio público, digo, privado, que merece. Fazemos de nosso passeio o que bem queremos e ninguém tem nada com isso e muito menos a prefeitura. Vamos às pérolas.
Os canos de vazão de água das casas surgem por cima dos passeios fazendo deles perfeitos chuveiros para os transeuntes. Um bom lugar para caminhar quando está chovendo? Na rua, pois no passeio tomarás banho de chuveiro. As pessoas costumam lavar suas casas varrendo a água suja para cima dos canos que deságuam no passeio, público.
Subidas para automóveis são confeccionadas ao bel prazer do proprietário, algumas tão altas que é impossível transpô-las. Antigamente construiam-se degraus de ferro próprios para fazer o carro subir e adentrar à garagem. O morador os guardava após estacionar seu carro. Para quê isso hoje? Você já adquiriu sua cota de passeio, ao adquirir sua casa.
O passeio público tornou-se também a latrina oficial de cachorros. Madames passeiam com seus lindos dogs para que eles façam suas necessidades fisiológicas, no passeio público. Cuidado, portanto, se tens o costume, antigo, de andar por passeios, para não chegar em casa com aquele cheirinho inadequado nos sapatos.
Cada casa tem seu modelo de passeio. Numa ele é alto, noutra inclinado, noutro rebaixado, naquela outra ele não existe mais, foi incorporado. Há os com jardins, canteiros, até plantação. Desista, passeio não é lugar mais para transitar, passear, andar, pisar, algum verbo de movimento. Passeio é para evitar.
Evite, por exemplo, destroncar o pé em um buraco ou entortar a coluna em um passeio inclinado. Evite tropeçar em um levantamento de solo. Evite um susto inesperado com o latido daquele cachorrão atrás do portão. Evite levar uma cusparada que vem de dentro da casa, ou de cima do prédio, ou mesmo aquele cigarro acesso lançado lá de dentro. Evite o suicida que pula do último andar e vai cair em sua cabeça. Evite a marquize condenada pela vigilância. Evite o lixo. Ah! Sim, o lixo. Outro departamento.
Cada pessoa faz de seu lixo o que quer, desde que o deposite no passeio público. Há, ao lado do passeio, os cestos recolhedores de lixo, cada um o faz de seu jeito, mas há os que sistematicamente preferem depositar o lixo no chão mesmo.
Bem, tudo isso decorre do simples fato de que o pedestre, para o governo, assim como para os moradores, não existe. O pedestre é antes de tudo, um pobre coitado, um enjeitado. Quem manda não ter carro? O que vai fazer ele na rua, tão perigosa? Melhor mesmo seria não haver passeio. Acabemos com ele. Afinal ele não existia nas cidades coloniais. Para quê o inventaram? Para o pedestre? Ora, seu pedestre, vá comprar um automóvel. Pare de incomodar a quem, com tanto cuidado, construiu este pedaço lindo de sua casa nesta sua parte de rua.
Precisamos acrescentar um novo adjetivo à palavra passeio. Pelo menos no Brasil passeio público quer dizer passeio privado. Esta pérola de nosso individualismo decorre da premissa de que o passeio é uma extensão da casa, local onde ela termina e não onde começa. Assim, cada brasileiro tem o passeio público, digo, privado, que merece. Fazemos de nosso passeio o que bem queremos e ninguém tem nada com isso e muito menos a prefeitura. Vamos às pérolas.
Os canos de vazão de água das casas surgem por cima dos passeios fazendo deles perfeitos chuveiros para os transeuntes. Um bom lugar para caminhar quando está chovendo? Na rua, pois no passeio tomarás banho de chuveiro. As pessoas costumam lavar suas casas varrendo a água suja para cima dos canos que deságuam no passeio, público.
Subidas para automóveis são confeccionadas ao bel prazer do proprietário, algumas tão altas que é impossível transpô-las. Antigamente construiam-se degraus de ferro próprios para fazer o carro subir e adentrar à garagem. O morador os guardava após estacionar seu carro. Para quê isso hoje? Você já adquiriu sua cota de passeio, ao adquirir sua casa.
O passeio público tornou-se também a latrina oficial de cachorros. Madames passeiam com seus lindos dogs para que eles façam suas necessidades fisiológicas, no passeio público. Cuidado, portanto, se tens o costume, antigo, de andar por passeios, para não chegar em casa com aquele cheirinho inadequado nos sapatos.
Cada casa tem seu modelo de passeio. Numa ele é alto, noutra inclinado, noutro rebaixado, naquela outra ele não existe mais, foi incorporado. Há os com jardins, canteiros, até plantação. Desista, passeio não é lugar mais para transitar, passear, andar, pisar, algum verbo de movimento. Passeio é para evitar.
Evite, por exemplo, destroncar o pé em um buraco ou entortar a coluna em um passeio inclinado. Evite tropeçar em um levantamento de solo. Evite um susto inesperado com o latido daquele cachorrão atrás do portão. Evite levar uma cusparada que vem de dentro da casa, ou de cima do prédio, ou mesmo aquele cigarro acesso lançado lá de dentro. Evite o suicida que pula do último andar e vai cair em sua cabeça. Evite a marquize condenada pela vigilância. Evite o lixo. Ah! Sim, o lixo. Outro departamento.
Cada pessoa faz de seu lixo o que quer, desde que o deposite no passeio público. Há, ao lado do passeio, os cestos recolhedores de lixo, cada um o faz de seu jeito, mas há os que sistematicamente preferem depositar o lixo no chão mesmo.
Bem, tudo isso decorre do simples fato de que o pedestre, para o governo, assim como para os moradores, não existe. O pedestre é antes de tudo, um pobre coitado, um enjeitado. Quem manda não ter carro? O que vai fazer ele na rua, tão perigosa? Melhor mesmo seria não haver passeio. Acabemos com ele. Afinal ele não existia nas cidades coloniais. Para quê o inventaram? Para o pedestre? Ora, seu pedestre, vá comprar um automóvel. Pare de incomodar a quem, com tanto cuidado, construiu este pedaço lindo de sua casa nesta sua parte de rua.
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