A POESIA(EM BREVE) DE TOMAS TRANSTRÖMER
Um nome sueco daqueles que devem ser difíceis de falar e ainda com os dois pontinhos em cima do O, como se fosse um O de óculos, de intelectual, só podia ser mesmo de um poeta. E o mais legal, um poeta que ganha o prêmio nobel.
O problema é que nada sabemos sobre ele. Sua obra ainda não foi traduzida para o português brasileiro, não temos a menor idéia de quem ele seja. Isso, à primeira vista, péssimo, é ótimo, porque estaremos, em breve, diante daqueles livros que se traduzem rápido porque vendem. Vendem, porque ganham prêmios. É assim a nossa sociedade moderna, com seus altos e baixos. Que venha então, Tomas trans......e transforme o nosso marasmo poético, mesmo que traduzido, já que traduções sempre são como se diz em italiano: traduttore, tradidore(tradução=traição).
Pra saber sobre ele entrei na revista de cultura agulha, novembro de 2007, e vi lá uma análise do poeta feito pelo escritor português Luís Costa. Disse, na época, o anti-profético escritor que Tranströmer talvez jamais ganhasse o prêmio nobel, pois sua obra era pequena e de uma potência fenomenal, que talvez eu possa traduzir como: difícil.
Luís define a poesia de Tomas como uma poesia zen, concisa, uma metapoesia. Seus poemas aparentemente pictóricos nos remetem a uma realidade transcendental, se é que isso existe.
Assim, sem mais, esperando por ele, vamos ao poema traduzido por Luís Costa(em português de Portugal):
FUNCHAL
[poema de Tomas Tranströmer]
O restaurante do peixe na praia, uma simples barraca, construída por náufragos.
Muitos, chegados à porta, voltam para trás, mas não assim as rajadas de vento
do mar. Uma sombra encontra-se num cubículo fumarento e assa dois peixes,
segundo uma antiga receita da Atlântida, pequenas explosões de alho.
O óleo flui sobre as rodelas do tomate. Cada dentada diz que o oceano nos quer
bem, um zunido das profundezas.
Ela e eu: olhamos um para o outro. Assim como se trepássemos as agrestes colinas floridas, sem qualquer cansaço. Encontramo-nos do lado dos animais, bem-vindos, não
envelhecemos. Mas já suportámos tantas coisas juntos, lembramo-nos disso,
horas em que também de pouco ou nada servíamos ( por exemplo, quando
esperávamos na bicha para doar o sangue saudável – ele tinha prescrito uma
transfusão). Acontecimentos, que nos podiam ter separado, se não nos tivéssemos
unido, e acontecimentos que, lado a lado, esquecemos – mas eles não nos esqueceram!
Eles tornaram-se pedras, pedras claras e escuras, pedras de um mosaico desordenado.
E agora aconteceu: os cacos voam todos na mesma direcção, o mosaico nasce.
Ele espera por nós. Do cimo da parede, ele ilumina o quarto de hotel, um design,
violento e doce, talvez um rosto, não nos é possível compreender tudo, mesmo
quando tiramos as roupas.
Ao entardecer, saímos. A poderosa pata, azul escura, da meia ilha jaz,
expelida sobre o mar. Embrenhamo-nos na multidão, somos empurrados
amigavelmente, suaves controlos, todos falam, fervorosos, na língua
estranha. “um homem não é uma ilha”. Por meio deles fortalecemo-nos, mas
também por meio de nós mesmos. Por meio daquilo que existe em nós e que os
outros não conseguem ver. Aquela coisa que só se consegue encontrar a ela
própria. O paradoxo interior, a flor da garagem, a válvula contra a boa escuridão.
Uma bebida que borbulha nos copos vazios. Um altifalante que propaga o silêncio.
Um atalho que, por detrás de cada passo, cresce e cresce. Um livro que só no escuro
se consegue ler.
Um nome sueco daqueles que devem ser difíceis de falar e ainda com os dois pontinhos em cima do O, como se fosse um O de óculos, de intelectual, só podia ser mesmo de um poeta. E o mais legal, um poeta que ganha o prêmio nobel.
O problema é que nada sabemos sobre ele. Sua obra ainda não foi traduzida para o português brasileiro, não temos a menor idéia de quem ele seja. Isso, à primeira vista, péssimo, é ótimo, porque estaremos, em breve, diante daqueles livros que se traduzem rápido porque vendem. Vendem, porque ganham prêmios. É assim a nossa sociedade moderna, com seus altos e baixos. Que venha então, Tomas trans......e transforme o nosso marasmo poético, mesmo que traduzido, já que traduções sempre são como se diz em italiano: traduttore, tradidore(tradução=traição).
Pra saber sobre ele entrei na revista de cultura agulha, novembro de 2007, e vi lá uma análise do poeta feito pelo escritor português Luís Costa. Disse, na época, o anti-profético escritor que Tranströmer talvez jamais ganhasse o prêmio nobel, pois sua obra era pequena e de uma potência fenomenal, que talvez eu possa traduzir como: difícil.
Luís define a poesia de Tomas como uma poesia zen, concisa, uma metapoesia. Seus poemas aparentemente pictóricos nos remetem a uma realidade transcendental, se é que isso existe.
Assim, sem mais, esperando por ele, vamos ao poema traduzido por Luís Costa(em português de Portugal):
FUNCHAL
[poema de Tomas Tranströmer]
O restaurante do peixe na praia, uma simples barraca, construída por náufragos.
Muitos, chegados à porta, voltam para trás, mas não assim as rajadas de vento
do mar. Uma sombra encontra-se num cubículo fumarento e assa dois peixes,
segundo uma antiga receita da Atlântida, pequenas explosões de alho.
O óleo flui sobre as rodelas do tomate. Cada dentada diz que o oceano nos quer
bem, um zunido das profundezas.
Ela e eu: olhamos um para o outro. Assim como se trepássemos as agrestes colinas floridas, sem qualquer cansaço. Encontramo-nos do lado dos animais, bem-vindos, não
envelhecemos. Mas já suportámos tantas coisas juntos, lembramo-nos disso,
horas em que também de pouco ou nada servíamos ( por exemplo, quando
esperávamos na bicha para doar o sangue saudável – ele tinha prescrito uma
transfusão). Acontecimentos, que nos podiam ter separado, se não nos tivéssemos
unido, e acontecimentos que, lado a lado, esquecemos – mas eles não nos esqueceram!
Eles tornaram-se pedras, pedras claras e escuras, pedras de um mosaico desordenado.
E agora aconteceu: os cacos voam todos na mesma direcção, o mosaico nasce.
Ele espera por nós. Do cimo da parede, ele ilumina o quarto de hotel, um design,
violento e doce, talvez um rosto, não nos é possível compreender tudo, mesmo
quando tiramos as roupas.
Ao entardecer, saímos. A poderosa pata, azul escura, da meia ilha jaz,
expelida sobre o mar. Embrenhamo-nos na multidão, somos empurrados
amigavelmente, suaves controlos, todos falam, fervorosos, na língua
estranha. “um homem não é uma ilha”. Por meio deles fortalecemo-nos, mas
também por meio de nós mesmos. Por meio daquilo que existe em nós e que os
outros não conseguem ver. Aquela coisa que só se consegue encontrar a ela
própria. O paradoxo interior, a flor da garagem, a válvula contra a boa escuridão.
Uma bebida que borbulha nos copos vazios. Um altifalante que propaga o silêncio.
Um atalho que, por detrás de cada passo, cresce e cresce. Um livro que só no escuro
se consegue ler.
Gostei do poema, mas que o cara merece o prêmio, vá saber. Eu recomendo Chico Buarque para o ano que vem, mas não vai rolar, ele escreve coisas como "gostosa, quentinha, quem vai querer tapioca", não vai rolar. Reynaldo.
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