Pela vigésima vez acabo de ler Dom Casmurro, para mim o maior romance da língua portuguesa. Por que um livro tão simples, com uma história tão banal, consegue ser tão genial e tão profundo? É que estamos falando do "Bruxo do Cosme Velho", o que trabalha com precisão cirúrgica.
Vamos pensar sobre a época em que viveu Machado: preconceituosa, hipócrita. Tão bem retratada por seu contemporâneo José de Alencar no "Senhora". O bruxo, porém, é bem mais sutil que Alencar. Filho de escravo e oriundo das classes inferiores, vivia na corte, não podia afrontar bater cabeça com a elite, e ascendia a ela. Seu método era metafórico, , meio samurai.
Dom Casmurro é um romance de duas partes. A primeira parte relata o drama de Bentinho entre o amor possessivo de Capitu e a promessa da mãe em fazê-lo padre. Aí se vê a primeira facada de Machado na sociedade. Na sombra de narrar o drama da mãe em desejar humildemente o melhor para o filho( o seminário) e o sofrimento de Bentinho por ficar longe de Capitu(a namorada) esconde-se o sol dos temas principais: podem os pais determinarem o futuro dos filhos através de uma promessa religiosa? São os filhos propriedades dos pais? Que sociedade é essa que permite tal crueldade feita em nome do amor e/ou de Deus? Em cada página transbordam(embora não reveladas) as críticas à família, à igreja, aos costumes. É incrível a passagem em que ele conta a história do protonotário apostólico Padre Cabral. Todos o admiram pelo título, mas ninguém sabe(nem mesmo o Padre Cabral, ao certo) o que significa ser um protonotário apostólico. Era nobre ser padre, mais nobre ainda era ser um padre com título....seja qual fosse(quanto mais alto o título mais representante de Deus). Na segunda parte vem a crítica ao casamento e à fidelidade conjugal.
O drama de Bentinho sobre a infidelidade de Capitu com seu melhor amigo não tem fim. É uma tensão constante pensar a vida dos três: Capitu, Bentinho e Escobar...no triângulo amoroso jamais desfeito. A sociedade rígida não admitia exageros, não admitia barracos. A não ser que se revelasse a traição, ela permanecia como um véu sobre as cabeças de todos. Mas Dom Casmurro é tão bem escrito que não permite distrações. Não se pode lê-lo distraidamente, entre um trabalho e outro. Nâo se pode parar de lê-lo e recomeçar dias depois. Se quiser conhecer toda a sua grandeza leia-o do começo ao fim, ao cabo de uma semana no máximo. No fôlego da leitura acompanhará a tensão da história e o desfecho de tudo. A diferença entre Senhora e Dom Casmurro, creio eu: Senhora é explícito, tão explícito que o público da época deve ter visto com um romance....tão evidente que não se vê...mas Dom Casmurro é sutil...caminha como se tudo fosse leve e não passasse de um romance...e fica tão real que não se pode deixar de ver.
Vamos pensar sobre a época em que viveu Machado: preconceituosa, hipócrita. Tão bem retratada por seu contemporâneo José de Alencar no "Senhora". O bruxo, porém, é bem mais sutil que Alencar. Filho de escravo e oriundo das classes inferiores, vivia na corte, não podia afrontar bater cabeça com a elite, e ascendia a ela. Seu método era metafórico, , meio samurai.
Dom Casmurro é um romance de duas partes. A primeira parte relata o drama de Bentinho entre o amor possessivo de Capitu e a promessa da mãe em fazê-lo padre. Aí se vê a primeira facada de Machado na sociedade. Na sombra de narrar o drama da mãe em desejar humildemente o melhor para o filho( o seminário) e o sofrimento de Bentinho por ficar longe de Capitu(a namorada) esconde-se o sol dos temas principais: podem os pais determinarem o futuro dos filhos através de uma promessa religiosa? São os filhos propriedades dos pais? Que sociedade é essa que permite tal crueldade feita em nome do amor e/ou de Deus? Em cada página transbordam(embora não reveladas) as críticas à família, à igreja, aos costumes. É incrível a passagem em que ele conta a história do protonotário apostólico Padre Cabral. Todos o admiram pelo título, mas ninguém sabe(nem mesmo o Padre Cabral, ao certo) o que significa ser um protonotário apostólico. Era nobre ser padre, mais nobre ainda era ser um padre com título....seja qual fosse(quanto mais alto o título mais representante de Deus). Na segunda parte vem a crítica ao casamento e à fidelidade conjugal.
O drama de Bentinho sobre a infidelidade de Capitu com seu melhor amigo não tem fim. É uma tensão constante pensar a vida dos três: Capitu, Bentinho e Escobar...no triângulo amoroso jamais desfeito. A sociedade rígida não admitia exageros, não admitia barracos. A não ser que se revelasse a traição, ela permanecia como um véu sobre as cabeças de todos. Mas Dom Casmurro é tão bem escrito que não permite distrações. Não se pode lê-lo distraidamente, entre um trabalho e outro. Nâo se pode parar de lê-lo e recomeçar dias depois. Se quiser conhecer toda a sua grandeza leia-o do começo ao fim, ao cabo de uma semana no máximo. No fôlego da leitura acompanhará a tensão da história e o desfecho de tudo. A diferença entre Senhora e Dom Casmurro, creio eu: Senhora é explícito, tão explícito que o público da época deve ter visto com um romance....tão evidente que não se vê...mas Dom Casmurro é sutil...caminha como se tudo fosse leve e não passasse de um romance...e fica tão real que não se pode deixar de ver.
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